O avanço do uso de lenha para cozinhar e seus riscos

A biomassa sólida não processada, como a lenha, responde por mais da metade das necessidades domésticas de energia de países em desenvolvimento no mundo. Algumas regiões mais pobres da África e Ásia esse combustível representa 95% da energia consumida. Muitas habitações desses fazem uso de lenha para cozinhar.

A queima desse tipo de combustível sólido aumenta significativamente o nível de poluição no interior dos domicílios. Outros tipos de combustíveis mais modernos como o GLP ou a energia elétrica são mais eficientes e menos prejudiciais à saúde.

Os gases gerados pela biomassa não processada possuem substâncias danosas. O fumo desse tipo de combustível é classificado como provável carcinogêneo humano pela Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer.

Queima de lenha para o preparo de alimentos
Queima de lenha para preparo de alimentos
Situação no Brasil

No Brasil, em 2019, segundo dados do IBGE, cerca de 14 milhões de domicílios (19% do total) utilizavam lenha ou carvão para a preparação de alimentos. Com a pandemia do coronavírus e suas consequências econômicas esse número tende a subir nos anos de 2020 e 2021. A região brasileira com maior incidência desse tipo de combustível é a Norte, com 36% dos lares.

Ainda que em uma parcela razoável a utilização desse combustível não seja frequente, esse número é preocupante. A utilização dessa fonte de energia explica-se por motivos econômicos, ou seja, pela falta de acesso a outras formas menos nocivas para preparação dos alimentos, como o gás natural, gás liquefeito de petróleo (GLP) e a energia elétrica.

Os riscos comprovados em estudos científicos

Estudos realizados na Índia com mulheres que eram frequentemente expostas a ambientes que utilizavam lenha para cozinhar demonstraram nível de material particulado (PM 10 e PM 2,5) muito superior quando comparado com usuárias de GLP, conforme gráfico a seguir.

O avanço do uso da lenha para cozinhar e seus riscos
Nível de material particulado em cozinhas que utilizam lenha

Além disso, também foi verificado que a incidência de DNA danificado nas células das vias aéreas das pessoas que utilizavam a lenha para cozinhar. Esses danos eram cerca de 3,5 vezes maior que aquelas que utilizavam o GLP, conforme o gráfico a seguir.

O avanço do uso da lenha para cozinhar e seus riscos
Incidência de DNA danificado

Outras evidências do estudo foi a presença do dobro de proteínas 8-oxoG em usuários de biomassa. A presença dessas proteínas indica danos oxidativos, bem como níveis de OGG1 e APE1 (enzimas reparadoras de danos oxidativos) 50% menores nesse mesmo grupo.

Palavras finais

Portanto, esses resultados demonstram que o uso desse tipo de energia possui correlação direta com danos à saúde das pessoas que ficam expostas em ambientes confinados utilizados pra cozinhar.

O acesso a fontes de energia modernas, seguras e abundantes é fator fundamental para o desenvolvimento de qualquer região no planeta. Além disso, também se configura como fator importante para proteção da saúde dos usuários.

2 respostas

  1. Eu não fazia ideia disso. Confesso que acho uma delícia ver um fogão à lenha e até sonhava remotamente em um dia ter um. Mas, considerando os riscos à saúde, melhor não! O mesmo acontece com a lareira? Obrigada…

    1. kkkkkk… fogão a lenha e lareira são bons demais mesmo! O uso esporádico não chega a representar perigo, especialmente se for em ambientes ventilados. O problema é a exposição diária ao material particulado 🙂

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