A Última Linha do Bitcoin: Até Onde Vai o Crescimento?
O Bitcoin sempre foi um ativo cercado por mistério, otimismo e até certo fervor irracional. Criado em 2009, ele passou por diversas fases de adoção, cada uma marcada por um “novo dinheiro” entrando: dos entusiastas tecnológicos e anarquistas financeiros aos investidores de varejo e, finalmente, aos investidores institucionais. Agora, com o capital institucional fluindo cada vez mais para o mercado de criptomoedas, é legítimo perguntar: essa é a última linha de crescimento do Bitcoin?
Estamos em uma fase avançada, em que grandes fundos e corporações entram no mercado de criptomoedas e trazem consigo uma nova onda de confiança e capital. Esse capital institucional deu respaldo à narrativa de que o Bitcoin é uma reserva de valor ou o “ouro digital”. No entanto, se olharmos além da euforia, surge a questão: o que acontece quando esses grandes players decidirem que já investiram o suficiente?
Ciclo de Bolha: Rumo à Desilusão
Assim como muitas bolhas financeiras ao longo da história, o Bitcoin parece estar em um ciclo semelhante, onde fases de entusiasmo são seguidas por momentos de pânico e desilusão. O economista Hyman Minsky estudou esses ciclos, sugerindo que, após a fase de “mania” ou “euforia”, o mercado chega a um ponto em que o crescimento não pode ser sustentado, dando lugar a reações emocionais intensas.
Para o Bitcoin, o cenário atual com os investidores institucionais pode ser o auge dessa fase de mania. Mas e depois? Quando esses investidores questionarem se os retornos justificam o risco, é provável que a moeda entre em uma espiral de sentimentos que vão da descrença à repulsa:
- Desacreditar: A mudança começa sutilmente. Investidores começam a questionar a narrativa do “ouro digital”. Sem crescimento contínuo, o otimismo inicial dá lugar a uma visão mais crítica, e quem acreditava incondicionalmente na valorização constante do Bitcoin começa a rever suas suposições.
- Pânico: À medida que a confiança se abala, o pânico se instala. Aqueles que antes estavam certos de que o preço só subiria começam a vender, acentuando ainda mais a queda. O pânico reflete uma perda de fé, onde muitos percebem que os fundamentos de preço foram superestimados.
- Desilusão: A fase de desilusão surge quando investidores percebem que foram vítimas de expectativas irreais. Nesse momento, a ideia de “ouro digital” perde o encanto e a percepção de valor do Bitcoin passa a ser fortemente questionada.
- Repulsa e Raiva: Finalmente, chega a fase de repulsa e raiva. O Bitcoin deixa de ser visto como uma “revolução financeira” e passa a ser encarado como uma promessa vazia, ou até um esquema. Frustrados com as perdas, muitos investidores abandonam o ativo, levando a uma retração massiva do mercado.
A Narrativa da Escassez e o Fim do Crescimento
A história do Bitcoin se construiu muito em torno da narrativa de escassez – a ideia de que, com apenas 21 milhões de Bitcoins a serem minerados, o preço só aumentaria com o crescimento da demanda. Mas, na prática, essa escassez por si só não é suficiente para sustentar o valor. O Bitcoin depende de novos fluxos de entrada para que o preço se mantenha, e os investidores institucionais foram, possivelmente, o último grande influxo de capital que o mercado esperava.
A partir deste ponto, o ciclo de crescimento começa a mostrar suas limitações. Grandes fundos de investimento têm metas de rentabilidade e podem decidir reduzir ou interromper suas posições em Bitcoin caso os resultados não justifiquem o risco. Se e quando esses investidores começarem a sair, os efeitos podem ser devastadores, não apenas para o preço do ativo, mas também para sua percepção pública.
E Depois? Um Futuro de Ceticismo
Se essa “última linha” de crescimento com os institucionais se esgotar, o destino do Bitcoin pode se tornar mais previsível. Embora muitos defendam que ele seja o “ouro digital” e uma alternativa ao sistema tradicional, a natureza humana ainda se inclina a confiar em sistemas centralizados, em entidades que possam regular, monitorar e assegurar valor. Essa resistência a uma moeda totalmente descentralizada é uma característica intrínseca do comportamento humano, e sem uma base de confiança regulada, o futuro do Bitcoin se torna incerto.
Em muitos aspectos, a situação do Bitcoin evoca a bolha das tulipas no século XVII, quando as pessoas começaram a valorizar um ativo sem um fundamento real de valor, acreditando apenas que outros pagariam mais por ele. Quando essa crença vacilou, a bolha estourou. Da mesma forma, o Bitcoin depende de uma confiança contínua na narrativa de escassez e autonomia. Sem uma entidade central que responda por ele e com uma entrada institucional limitada, essa confiança tem seus dias contados. O fim do Bitcoin pode ser inevitável; talvez não saibamos exatamente quando, mas as pressões psicológicas e a própria estrutura financeira indicam que o colapso pode ocorrer.
Enquanto o Bitcoin continuar a ser um fenômeno financeiro, seus ciclos de crença e descrença, entusiasmo e decepção, podem se repetir. Mas, como a bolha das tulipas, ele serve para lembrar que, muitas vezes, o entusiasmo irracional do mercado acaba mostrando suas limitações.