Lixo no Brasil em 2020

A questão do Lixo no Brasil é um dos principais desafios para os gestores públicos brasileiros, especialmente nas últimas duas décadas. Apesar disso, esse “problema” é muito mais antigo! Os resíduos sólidos sempre acompanharam os homens durante toda a sua história.

Desde que deixamos de ser nômades, o problema começou a ganhar escala. As cidades se desenvolveram, e, ainda que algumas tivessem soluções de saneamento de água e esgoto, os resíduos sólidos não recebiam tratamento. Aliás, parece que pouca coisa mudou nessa história, afinal, dentro do Saneamento, os Resíduos Sólidos juntamente com a Drenagem continuam sendo muitas vezes menos priorizados.

A partir da revolução industrial, o descarte de materiais passou a ter mais relevância. Mas, foi na década de 70 que a gestão dos resíduos sólidos passou a ser enxergado como um problema ambiental.

Cinco décadas depois, e muitas tentativas frustradas, ainda vivenciamos uma realidade onde cada 10 kg de lixo gerado no país, 4 deles são destinados inadequadamente! Será que com o novo marco do saneamento vamos dar um salto de qualidade? Ansioso pelos próximos capítulos…

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Nesse texto você vai ver:

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Este levantamento foi realizado com base nos dados divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE).

Se quiser conferir o texto sobre o levantamento de 2019, clique nesse link aqui!

1. Geração de Lixo no Brasil em 2020

A produção de lixo no Brasil que já vinha aumentando na última década, avançou mais um degrau no último ano. Em 2020 foram produzidas 82,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Esse número é 4,4% maior que 2019, quando foi gerado 79 milhões de toneladas.

Os números atuais são cerca de 25% maiores que em 2010, quando a geração foi de 66 milhões de toneladas.

2. Geração per capita

Apesar de parte desse aumento ser explicado pelo aumento populacional, a geração per capita também aumentou em comparação a 2010 e 2019.

Em 2020, cada brasileiro produziu em média 390 kg de resíduos sólidos. Em 2019, a quantidade era de 379 kg e em 2010 era 348 kg por habitante. Ou seja, um acréscimo de 2,9% em relação a 2019 e de 12,1% em relação a 2010.

A geração per capita entre as regiões brasileiras permanece bastante heterogênea. O Sudeste continua liderando o ranking dos maiores produtores per capita – 460 kg/hab.ano. Na outra ponta, o Sul também continua sendo a região que menos gera resíduos por habitante, em 2020 foram 294 kg/hab.ano.

Veja os números e a evolução de cada região entre 2019 e 2020 no gráfico a seguir:

3. Geração de lixo no mundo

A geração de lixo no mundo possui correlação direta com o nível de renda. Na América Latina, por exemplo, nossos números são parecidos com economias semelhantes como o México e a Argentina.

Embora o Brasil não tenha números elevados de geração per capita, a forma como é realizada o gerenciamento desses resíduos ainda é um problema. Desde 2010 está em vigor no país a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) a qual define diretrizes para melhor gerenciamento dos resíduos sólidos.

Na outra ponta, os países desenvolvidos geram quantidade de resíduos per capita muito superior ao Brasil, porém costumam efetuar uma gestão mais adequada dos seus resíduos. Os gráficos a seguir apresentam a geração no mundo em 2010.

4. Composição do lixo no Brasil

Aproximadamente 45% de tudo que vai para nossas lixeiras são resíduos orgânicos. A outra parcela é composta principalmente por plásticos, papel e rejeitos. Veja no gráfico abaixo a composição detalhada:

5. A coleta do lixo no Brasil

Da mesma forma que foi diagnosticado em 2019, as regiões Norte e Nordeste deixaram de coletar cerca de 2 de cada 10kg de resíduos gerados em 2020. A cobertura média nacional neste último ano foi de 92%, com destaque para a região Sudeste que alcançou índice de 98% de cobertura.

A coleta seletiva também foi outro aspecto sem grande evolução. Em 2020 mais de um quarto dos municípios brasileiros permaneceram sem nenhuma iniciativa de coleta seletiva. A evolução entre 2019 e 2020 foi de apenas 1,3%.

O gráfico a seguir detalha o percentual de municípios por região brasileira com alguma iniciativa de coleta seletiva.

6. Disposição final dos resíduos sólidos

Outro aspecto que teve um avanço muito tímido foi a disposição adequada de resíduos. O percentual avançou de 59,5% em 2019 para 60,2% em 2020. Ou seja, 29 milhões de toneladas por ano continuam sendo lançadas no meio ambiente de forma inadequada e irregular.

Esse número também não é muito diferente em relação a uma década antes (2010), quando a destinação adequada era de 54%. Será que com o novo marco do saneamento e a obrigatoriedade de cobrança de taxa de lixo essa realidade vai melhorar e avançar a passos mais largos?

7. Emissões de gases proveniente de resíduos sólidos

Os resíduos sólidos são responsáveis por cerca de 4% das emissões dos gases de efeitos estufa no país. Um dos principais gases emitidos pela matéria contida em aterros e lixões é o metano (CH₄). Esse tipo de gás é cerca de 21 vezes mais causador do efeito estufa que o dióxido de Carbono (CO₂).

Todo ano são emitidos cerca de 100 milhões de toneladas de CO₂eq em aterros e lixões no país. A ABRELPE estima que a adoção de técnicas simples de disposição adequada dos resíduos poderia contribuir com a redução de 5 a 10% desses gases.

8. Recursos financeiros envolvidos

Considerando os serviços de limpeza urbana, coleta, tratamento e disposição final, esse mercado movimentou R$ 27,3 bilhões em 2020. Esse número representa R$ 129/habitante a cada ano. Além disso, o setor gera aproximadamente 334,6 mil empregos diretos.

Como observado nos indicadores anteriores, a distribuição dos recursos em resíduos sólidos no país também é desigual. A região que mais aplica recursos proporcionalmente ao número de habitantes é também a região mais rica do país (sudeste). O gráfico a seguir detalha as cifras por região e a evolução em relação a 2019.

9. Resumo dos números do Lixo no Brasil em 2020

• Geração total: 82,5 milhões de toneladas
• Geração per capita: 390kg/hab
• Cobertura de coleta: 92,2%
• Destinação adequada dos resíduos: 60,2%
• Resíduos da construção civil coletados: 47 milhões de toneladas
• Resíduos de serviços de saúde coletados: 290 mil toneladas
• Municípios c/ alguma iniciativa de coleta seletiva: 74,4%
• Recursos aplicados em Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos: R$ 27,3 bilhões
• Empregos diretos gerados: 334,6 mil

10. Palavras Finais

O alcance do desenvolvimento social passa pelo manejo adequado de resíduos. A vida moderna não permite o alcance de geração zero de lixo, embora seja possível reduzir. Portanto, a gestão destes resíduos é primordial para o desenvolvimento das nossas cidades.

A lógica de “reduzir, reutilizar, reciclar […]” é muito válida para trilhar o caminho deste desenvolvimento. Se não geramos tantos resíduos como outras nações mais desenvolvidas, por outro lado ainda gerimos muito mal nossos resíduos. Seria catastrófico aumentar a produção de lixo no Brasil a níveis de países desenvolvidos se continuarmos com o nosso nível de gestão atual.

Se no passado a sociedade tolerou a disposição de resíduos em lixões, essa cultural não é mais aceita. Embora seja um problema quase que “invisível” no meio urbano, a disposição inadequada de resíduos retorna para todos nós por meio da água, ar, alimentos e outras fontes.