Investimento em Renda Fixa
Em tempos de taxa básica de juros no menor patamar da história, assistimos a migração de recursos e investidores para a renda variável. Alguns afirmam que a renda fixa “morreu”. Outros apontam que é apenas um momento atípico. Entretanto, a verdade é que, ao menos hoje (dezembro/2020), a possibilidade de obter rentabilidade com liquidez e ao mesmo tempo baixo risco está muito menor do que anos atrás. Conhecer as possibilidades de investimento em renda fixa pode ajudar o investidor aumentar a sua rentabilidade.
Atualmente temos a SELIC no seu menor nível da história (2% a.a.). Enquanto isso, assistimos a inflação galopar para 4,22% nos últimos 12 meses. Ou seja, a taxa básica de juros brasileira atualmente é negativa. Como reverter isso?
A renda variável pode ser uma das saídas. No ano de 2020 o mercado teve uma janela de oportunidade muito interessante, especialmente na bolsa brasileira. Apesar disso, toda carteira de investimentos deve possuir a sua parcela destinada para reserva de emergência. Sendo assim, inevitavelmente todo investidor (ou pelo menos aqueles que possuem juízo), devem manter seus recursos alocados parcialmente em renda fixa.
E você, conhece as possibilidades de Investimento em Renda Fixa? É comum que muitas pessoas, mesmo com nível de escolaridade elevado, não sejam proficientes em investimentos, inclusive em renda fixa. Nesse texto, apresentarei de forma simplificada os principais produtos e suas características.
1 Poupança
Um dos investimentos em renda fixa mais tradicional, conhecido e acessível do Brasil. Sinônimo de segurança e facilidade de acesso. Possui isenção de tributação, liquidez imediata e garantia do Fundo Garantido de Crédito (FGC). Apesar disso, possui uma grande desvantagem: a sua rentabilidade. Atualmente a poupança brasileira remunera com uma taxa pós-fixada equivalente a 70% da SELIC, ou seja, em dezembro/2020 isso corresponde a 1,40% a.a. ou 0,12% a.m. Outro ponto negativo é que sua rentabilidade não é diária, e sim mensal.
Observação: Quando a SELIC for superior a 8,50% a.a., a remuneração da poupança segue o antigo critério, ou seja, 0,5% a.m. + TR.
2 Tesouro Direto
Investir no tesouro direto significa emprestar dinheiro para o governo federal. Nos últimos anos houve um esforço do governo para democratização desse tipo de investimento, mas ainda muitos desconhecem ou não sabem acessá-lo. Basicamente a sua intermediação ocorre por meio de um banco ou corretora, e na maioria dos casos a taxa dessas instituições para acessar esse investimento é zero.
Embora a maioria das instituições não cobre para acessar o Tesouro Direto, existe a taxa de custódia da B3. Em dezembro/2020 essa taxa era de 0,25% a.a. (existe isenção até R$ 10 mil e o que exceder a R$ 5 milhões). Considerando as atuais taxas de remuneração, a custódia possui impacto significativa na rentabilidade. O custo da taxa de custódia pode ser consultado nesse link: http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/tarifas/tarifas-de-tesouro-direto
Esses títulos possuem rentabilidade diária e são tributados pela tabela regressiva de longo prazo (15% a 22,5% sobre a rentabilidade). Não possuem cobertura do FGC, entretanto são considerados de baixo risco pelo mercado. Para acessá-los você precisa se cadastrar em alguma instituição financeira e depois operar diretamente pelo site www.tesourodireto.com.br
Existem três modalidades: Tesouro SELIC (antiga LFT), Tesouro Prefixado (antiga LTN e NTN-F), e Tesouro IPCA (antiga NTN-B Principal e NTN-B). Todas as opções permitem o resgate antecipado. A principal diferença entre elas é o momento de fixação da taxa de remuneração e seu indexador, conforme detalhado abaixo.
Modalidade de títulos do Tesouro Direto
Tesouro SELIC: Título pós-fixado indexado pela SELIC. Prazo de vencimento em torno de 5 anos.
Tesouro Prefixado: Título pré-fixado em que o investidor já conhece a remuneração desde a contratação. Existem as possibilidades com e sem pagamento de juros semestrais. Atualmente esses títulos possuem a remuneração bruta entre 4,55% a.a. até 7,19% a.a. (dezembro/2020), conforme o prazo de vencimento que varia em torno de 2 a 11 anos.
Tesouro IPCA: Título com remuneração híbrida, ou seja, uma parte pré-fixada e outra pós-fixada com indexação ao IPCA. Existem as possibilidades com e sem pagamento de juros semestrais. Atualmente esses títulos possuem a remuneração bruta entre IPCA + 2,45% a.a. até IPCA + 3,86% a.a. (dezembro), conforme o prazo de vencimento que varia em torno de 5 a 35 anos. Esse é um título ideal para quem quer garantir rentabilidade superior à inflação oficial.
A remuneração de cada um dos títulos do Tesouro Direto pode ser consultada em: https://www.tesourodireto.com.br/titulos/precos-e-taxas.htm
3 Certificado de Depósito Bancário – CDB
Esse é talvez o principal tipo de investimento em renda fixa. Os certificados de depósito bancário, também conhecidos por “depósito a prazo”, são títulos emitidos pelas Instituições Financeiras (IFs). Possuem rentabilidade diária e possibilidade de resgate antecipado, a depender da sua carência. Esses títulos também possuem a opção de negociação no mercado secundário, mas nesse caso, normalmente com deságio.
Na prática é uma forma de você emprestar dinheiro aos bancos, que por sua vez, utilizam esses recursos para ofertar crédito no mercado, ganhando um spread nessa intermediação financeira.
Existem diversos prazos de vencimento desses títulos, a depender de cada emissor, sendo o mais comum entre 6 meses a 5 anos.
Diferente da poupança, a rentabilidade desse título não é padronizada, ou seja, cada banco pode pagar uma remuneração diferente. Existem títulos pré-fixados, pós-fixados e híbridos. Os indexadores mais utilizados são o CDI e IPCA. O CDB é garantido pelo FGC e sofre incidência de imposto (15% a 22,5% sobre a rentabilidade). A seguir, um resumo da rentabilidade média de mercado atual (dezembro/2020):
Pós-fixados: 90% a 180% do CDI, dependendo do prazo e carência. Atualmente isso corresponde a 1,6% a.a. a 3,2% a.a. bruto.
Pré-fixado: Atualmente em torno de 3% a.a. a 9% a.a. bruto, dependendo do prazo e carência.
Híbridos: A maioria deles são indexados ao IPCA, variando em torno de IPCA + 1% a.a. a IPCA +5% a.a. bruto, dependendo do prazo e carência.
4 Recibo de Depósito Bancário – RDB
Os RDBs são muito semelhantes aos CDBs, embora não sejam tão comuns no mercado de investimento em renda fixa. A principal diferença entre esses produtos de investimento é a possibilidade de negociação deste título antes do seu vencimento.
Enquanto os CDBs podem ser transferidos e negociados antes do vencimento, os RDBs são intransferíveis, ou seja, não podem ser negociados no mercado secundário nem resgatados antecipadamente. Dessa forma, pelo menos em teoria, os RDBs devem (ou deveriam) possuir rendimento superior aos CDBs.
5 Letra de Crédito Imobiliária (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA)
O funcionamento dessas modalidades de investimento também é muito parecida com a do CDB, inclusive com garantia do FGC. As principais diferenças são três: a origem, prazo mínimo e a tributação.
Origem: enquanto os CDBs são emitidos pelas Instituições Financeiras poderem ofertar crédito, os LCIs e LCAs já são lastreados em carteiras de crédito imobiliário e do agronegócio das instituições financeiras, respectivamente. Sob esse ponto de vista não existe diferença significativa ao investidor.
Prazo mínimo: o prazo mínimo desses títulos é de 90 dias, inclusive de carência, ou seja, não é possível resgatar antes desse período.
Tributação: essa é a principal vantagem desses títulos. Os LCIs e LCAs são isentos de tributação.
6 Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA)
Os CRIs e CRAs são muito semelhantes aos LCIs e LCAs. Sua principal diferença está na origem e garantia.
Origem: enquanto os LCIs e LCAs são lastreados em carteiras de créditos de Instituições Financeiras, os CRIs e CRAs são emitidos por securitizadoras, ou seja, empresas especializadas em emitir títulos de créditos a partir do fluxo de recebimentos de empresas do setor, nesses casos, do setor imobiliário e do agronegócio.
Garantia: ao contrário dos LCIs e LCAs os CRIs e CRAs não são garantidos pelo FGC.
Naturalmente, com o maior risco dos CRIs e CRAs, esses títulos devem possuir maior rentabilidade.
7 Letra de Câmbio (LC)
Assim como a LCI e LCA, a letra de câmbio é muito semelhante ao CDB. A sua principal diferença é a sua origem. Enquanto os CDBs são emitidos por bancos as letras de câmbio são emitidas por financeiras. Na prática, existe pouca diferença sob o ponto de vista do investidor.
8 Debêntures
Apesar do nome parecer ser complicado, esse tipo de investimento não é muito complexo. De certa forma, assemelha-se aos CDBs, mas com algumas diferenças.
Inicialmente deve-se entender que uma debênture é um título de crédito emitido por uma empresa organizada sob a forma de sociedade anônima (aberta ou fechada) e não por um banco. Além disso, diferente dos CDBs, as debêntures não são garantidas pelo FGC, o que exige maior critério na avaliação do risco.
As debentures podem ser “conversíveis” ou “não conversíveis” em ações. Essa conversão é uma opção do investidor. Na prática serve para dar maior garantia aos credores, visto que, caso a empresa não possua caixa para honrar o pagamento na data de vencimento do título de crédito, ao menos o investidor poderá receber ações dessa empresa.
Da mesma forma que os CDBs, as debentures sofrem incidência de imposto de investimentos de renda fixa (15% a 22,5% sobre a rentabilidade). Apesar disso, existe a categoria de debêntures incentivadas que são isentas dessa tributação. Tal exceção existe para incentivar alguns setores como logística, energia, saneamento básico, transportes, aviação, entre outros.
Não existe regra para o prazo das debentures, entretanto é comum encontrar títulos no mercado com prazo entre 2 a 10 anos. As debentures podem ter resgate antecipado, conforme as regras da emissão, bem como podem ser negociadas no mercado secundário.
Sua principal vantagem é a rentabilidade. Por existir maior risco, naturalmente as debentures possuem rendimento ligeiramente superior aos CDBs.
9 Fundos de Investimento
Os fundos de investimento são meios para acessar e diversificar a carteira com investimento em renda fixa, tais como os apresentados nesse texto. Ele é administrado por gestores profissionais que fazem a alocação dos recursos conforme regras do fundo, bem como as melhores oportunidades disponíveis no mercado.
A principal vantagem dos fundos de investimento é a possibilidade de acessar títulos de rentabilidade um pouco superior, visto que suas aquisições ocorrem em grande volume, além da gestão profissional.
Por outro lado, deve-se ficar muito atento às taxas de administração cobradas, especialmente em tempos de juros baixos, eles podem tomar parte significativa da sua rentabilidade. Não é incomum encontrar no mercado fundos de renda fixa com taxa de administração próximas a 2% a.a., ou seja, equivalentes a taxa básica de juros atual (dezembro/2020).
Outros pontos importantes a serem destacados é a ausência de cobertura do FGC e incidência de imposto de renda. Por outro lado, o seu acesso geralmente é muito rápido e fácil.
Tabela Resumo
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