Como investir na bolsa de valores – Introdução ao universo da renda variável
Você já investe na bolsa? Muitos amigos me perguntam como investir na bolsa de valores (B3). Antes de entender como operar, o primeiro passo é aprender sobre o universo da renda variável. Pode parecer complexo, mas talvez seja mais simples do que parece.
Antes de mais nada, nesse mundo é que não existe rentabilidade/lucro garantido. Na verdade, você pode até perder dinheiro, mas não se assuste, as chances de ganhar são boas, para isso você precisa entender os riscos e obviamente aprender sobre o mercado sempre (não existe final de linha), mesmo que seja com seus erros.
Selecionei cinco formas principais de investir no mercado de renda variável: Ações, Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs), Fundos de Investimento, Exchange Traded Funds (ETFs) e Derivativos. A seguir uma visão geral sobre cada um deles.
Ações (mercado à vista)
A forma mais clássica de “investir na bolsa”. Uma ação representa a menor parte que se divide uma sociedade anônima. Portanto, ao compra-la você se torna sócio da empresa (Maravilha! Vou comprar a AMBEV pra mim e ter cerveja free pelo resto da vida).
Para entendermos a ordem de grandeza disso, a AMBEV, uma das maiores empresas listadas no IBOVESPA, possui mais de 15 bilhões de ações (também chamados de “papeis”). Com a cotação atual de R$ 15,00/ação, o valor de mercado dessa empresa é da ordem de R$ 225 bilhões. Um mundo de dinheiro!
Ok, sendo assim, vou comprar somente 100 destas ações (R$ 1.500) e me tornar um sócio minoritário da empresa, mas como que eu ganho dinheiro com isso? Existem basicamente duas formas de você lucrar com essas ações, e não será em cerveja, mas sim em dividendos ou pelo aumento do preço. Detalhes a seguir.
Pagamento de dividendos
É a distribuição de uma parte dos lucros da empresa. Esses pagamentos podem ocorrer em períodos variáveis, mas geralmente ocorrem de 1 a 2 vezes por ano.
Valorização do preço das ações
Se você comprar uma ação da AMBEV a R$ 15 e depois de um certo tempo (pode ser 10 segundos depois ou muitos anos) o mercado passa a negociar essas ações a R$ 16, você pode “realizar” o seu lucro vendendo suas ações e embolsando R$ 1,00 por ação vendida. Caso o seu preço caía e você decida vender, é nesse ponto que você pode ter prejuízo, mas lembre-se, você nunca perderá mais do que investiu.
Para acessar esse tipo de investimento você precisa ter conta numa corretora. Todavia, a maioria dos bancos facilitam esse acesso por meio de corretora própria ou associadas.
Fundos de Investimentos Imobiliários (FII)
Como o nome sugere, trata-se de um tipo de fundo que aplica seus recursos no mercado imobiliário. Essas aplicações podem ocorrer para a construção de imóveis ou aquisição de imóveis já prontos (alguns inclusive já alugados). As cotas desses fundos são negociadas na própria bolsa de valores, sempre com o código 11, por exemplo EURO11, RBBV11, CXRI11 (cuidado! Os ETFs também são negociados com o final 11).
Os FIIs basicamente geram lucro com aluguel desses imóveis, tal como os dividendos na compra de ações. Na maioria dos casos os pagamentos são mensais.
Assim como as ações, esses fundos são negociados na bolsa de valores e suas cotas flutuam livremente ao sabor do mercado, ou seja, você também pode lucrar ou tomar prejuízo com a variação das cotações. Esse tipo de investimento também é acessado por meio de uma corretora.
Fundos de Investimento
Os fundos de investimento talvez seja a forma mais simples, e talvez segura, para iniciar no mercado de renda variável. Você pode acessá-los diretamente nos bancos comerciais tradicionais, sem necessidade de uma conta em uma corretora, isso porque eles não são negociados no ambiente da bolsa. (OBS: não confundir com os FIIs e ETFs que são fundos negociados na bolsa de valores.)
Existem diversos tipos de fundo, inclusive alguns que não pertencem à renda variável, ou seja, os fundos de renda fixa (obviamente não será por esses que você acessará a renda variável). Também existem aqueles híbridos, ou seja, possuem papeis de renda fixa e variável.
A principal diferença dos fundos em relação ao acesso direto ao mercado é a possibilidade de contar com gestores profissionais. Em contrapartida, esse serviço é cobrado por meio da taxa de administração e alguns casos também a taxa de performance. Cuidado! Alguns fundos cobram taxas razoavelmente altas.
Os principais fundos que acessam o mercado de renda variável são: fundos de ações, fundos cambiais e fundos multimercado.
Fundos de ações
Fundos que possuem no mínimo 67% dos seus recursos alocados em ações. Podem ser passivos (acompanham um índice de renda variável ou mesmo uma ação específica) ou ativos (gestão com finalidade de gerar ganhos mais elevados).
Fundos cambiais
Aplicam no mínimo 80% dos seus recursos em moedas estrangeira, geralmente dólar e euro.
Fundos multimercado
Fundos que diversificam suas aplicações em vários produtos. Nesses fundos os gestores possuem a liberdade para alocar os recursos em todas classes de ativos, exceto se o estatuto do fundo vedar. Dessa forma, nesses fundos podemos encontrar ativos de renda fixa, cambial, ações e até derivativos (explicarei sobre eles no último tópico deste texto). Portanto, é muito importante conhecer a composição desses fundos antes de efetuar sua aplicação.
Exchange Traded Funds (ETFs)
À primeira vista o nome parece complicado, mas podemos simplificar chamando de Fundos de Índices. Esses fundos são negociados na bolsa de valores e possuem como principal característica acompanhar a referência de um índice da própria bolsa de valores.
Sua forma de acesso é idêntica aos fundos imobiliários, porém sua composição é bem diferente. Os ETFs são formandos por ativos de renda variável, geralmente ações.
Bons exemplos são o BOVA11 e XBOV11 que seguem praticamente a mesma variação do Índice Bovespa (IBOVESPA), o principal índice da B3. Sendo assim, se você quer investir nas ações deste índice, você pode aplicar seus recursos diretamente nesse ETF.
Essa é uma boa estratégia para quem está começando, especialmente porque garante diversificação da carteira, boa liquidez e facilidade de operação, isso tudo com baixos custos (geralmente inferiores aos fundos de investimento tradicionais).
Outros exemplos de ETFs:
SMAL11: ETF que aloca recursos nas empresas de menor volume de capital listadas na B3.
ECOO11: ETF que aloca recursos em empresas que adotam práticas transparentes de eficiência de emissão de gases causadores do efeito estufa
Derivativos
Sem dúvidas, os derivativos são o tipo de investimento mais agressivo de renda variável. Como o seu nome sugere, são contratos financeiros que derivam de algum outro ativo, ou seja, um negócio atrelado ao desempenho de outro referencial (ações, câmbio, índices, commodities).
A grande diferença dos derivativos é a sua natureza. Você não está comprando um ativo, mas na verdade está fechando uma espécie de contrato, logo, com pequenas somas financeiras você pode obter lucros altíssimos, ou amargar um grande prejuízo. Nesse tipo de investimento o seu lucro ou prejuízo é, de certa forma, ilimitado (obviamente são exigidas garantias nessas operações).
Dessa forma, os derivativos podem ser utilizados tanto para especulação e alavancagem, como para proteção (hedge). Definitivamente, ou pelo menos provavelmente, esse não é o tipo de investimento recomendado para os iniciantes. Entretanto, conhecer sobre o assunto é um passo fundamental para entender o mercado de renda variável e possivelmente combinar seu uso com outros investimentos.
Existem 3 tipos (mercados) de derivativos: mercado a termo, mercado futuro e opções.
Mercado a termo
Contrato de compra e venda com valor certo para liquidação futura, ou seja, acerta-se o valor hoje, mas é realizado o pagamento somente no futuro.
Mercado futuro
Semelhante ao mercado a termo, mas com uma diferença importante: o valor do negócio somente será conhecido no futuro e sofre ajustes diários até o vencimento. Na prática, é parecido com uma aposta (não significa dizer que não exista racionalidade). O comprador aposta que o ativo referência vai subir, enquanto o vendedor aposta que ele cairá. Todos o dias as partes realizam ajustes conforme essa variação.
Exemplo: um contrato de 10.000 dólares negociado a R$ 5,00. No dia seguinte a cotação do dólar sobe para R$ 5,10, logo o vendedor deverá pagar R$ 0,10 x 10.000 = R$ 1.000 para o comprador, visto que o valor de compra do ativo (dólar) sofreu valorização. Essa mecânica ocorre até a data de vencimento do contrato.
Opções
Contrato de negociação do direito de compra ou venda de uma ação no futuro (ou até o futuro, dependendo do tipo de opção – europeia ou americana) a um preço certo. Para isso o comprador que adquire esse direito, paga um valor (prêmio) para o vendedor que obriga-se a honrá-lo.
Palavras finais
Por fim, devo dizer que esse ensaio não possui a intenção de exaurir todos os detalhes e possibilidade do mercado de renda variável. Pelo contrário é somente uma introdução para permitir o investimento consciente, bem como os primeiros passos de como investir na bolsa de valores. Naturalmente é necessário aprofundar-se no assunto, mas ao mesmo tempo, não espere muito para começar (com pequenas quantias). O dia a dia é uma boa forma para buscar o aprendizado e vivenciar o mercado.