Títulos prefixados e pós-fixados: conceito e impactos nos seus investimentos
Qual a diferença entre títulos prefixados e pós-fixados de renda fixa? A resposta parece óbvia: o momento em que é conhecida a remuneração efetiva. Todavia, boa parte dos investidores não entendem quais impactos que cada uma das opções pode exercer sobre seus investimentos, os seus riscos e como escolher a melhor opção. (Clique aqui para saber mais sobre os produtos de renda fixa)
CONCEITO
Antes de avançar nos efeitos que cada escolha pode trazer aos investidores, detalharemos o conceito de cada uma das três possibilidades. Sim, três, pois além dos títulos prefixados e pós-fixados, também existem os híbridos, que misturam as duas opções.
Prefixado: Título que possui sua remuneração definida desde o início da operação, ou seja, sabemos exatamente o quanto ele renderá até o seu vencimento. Exemplo: 6% a.a.
Pós-fixado: Título que possui sua remuneração atrelada a um indexador, geralmente CDI, IPCA ou SELIC. Exemplo: 120% do CDI.
Híbrido: Título que possui sua remuneração dividida em 2 parcelas: a primeira atrelada a um indexador e a segunda conhecida desde o início da operação. Exemplo: IPCA + 3% a.a.
RISCOS
Para os investidores menos experientes, inicialmente a palavra “prefixado” pode sugerir maior segurança do que pós-fixados. Outros podem até ignorar o fato de existir risco considerável associado, visto que estramos tratando de produtos de renda fixa.
A verdade é que os títulos prefixados carregam maior risco, pois independentemente do que acontecer na economia, ele manterá sua remuneração inalterada, seja num cenário melhor ou pior.
Dessa forma, esse risco existe porque os títulos prefixados ficam numa condição de remuneração “congelada”, indiferente ao cenário econômico, enquanto os pós-fixados possuem sua remuneração flutuante, com acompanhamento de algum indexador, ou seja, de alguma forma acompanham as variações do cenário econômico.
EFEITOS
Para demonstrar os efeitos foram criados 3 exemplos de cenários, sendo:
- Cenário 1 – Estável
- Cenário 2 – Aumento da taxa de Juros
- Cenário 3 – Redução da taxa de juros
EFEITOS – CENÁRIO 1
Suponha que você investiu R$ 100.000 em títulos públicos prefixados (Tesouro Direto) com vencimento em 24 meses e taxa de juros de 6% a.a., enquanto a taxa básica de juros da economia (SELIC) estava 3% a.a.
Parece um excelente negócio visto que você vai ganhará 3% a.a. a mais do que investindo em um título pós-fixado pela SELIC, correto? A resposta é depende.
Se esse cenário permanecer inalterado, seu título prefixado realmente renderá mais do que outro pós-fixado pela SELIC. No exemplo dado acima, teríamos o seguinte resultado:
EFEITOS – CENÁRIO 2
Agora imagine um segundo cenário onde após 6 meses da realização desse investimento ocorram eventos que alteraram a SELIC para 11% a.a. (exemplo de alteração não gradual para demonstrar melhor a sensibilidade). Como resultado, o seu spread de 3% a.a. será totalmente corroído e você “deixará de ganhar” 5% a.a. quando comparado com o título pós-fixado.
Adicione nesse cenário a hipótese que logo em seguida você precise dos recursos e seja obrigado a resgatar seu investimento antecipadamente. Considerando a “marcação a mercado” desse título (entenda o que é “marcação a mercado” na sequência do texto), o valor a ser resgatado será inferior ao investido.
Enquanto isso, na opção pós-fixada nada disso ocorreria, visto que a sua taxa de remuneração iria variar conforme o indexador, nesse caso a SELIC. Observe o resultado desse caso hipotético no valor dos títulos em cada um dos 24 meses no gráfico do Cenário 2:
EFEITOS – CENÁRIO 3
O inverso também é verdadeiro. Se a taxa básica de juros cair, o valor de resgate antecipado (valor presente) do título prefixado irá subir naquele instante, embora chegue ao final dos 24 meses com o mesmo valor projetado, enquanto o investimento pós-fixado irá reduzir seus ganhos.
Dessa forma, suponha o mesmo exemplo anterior, entretanto considere que nesse novo cenário (3) no 6º mês houve uma redução da SELIC de 3% a.a. para 1% a.a., observe o resultado no gráfico do Cenário 3:
Obviamente esses casos são hipotéticos e os movimentos não costumam ser tão abruptos, em vez disso ocorrem mais espaçados ao longo do tempo. Apesar disso, com esses três cenários “caricatos”, é possível perceber que:
(a) Títulos prefixados sempre chegam ao vencimento com o mesmo valor, entretanto seu valor de resgate antecipado ao longo da sua vida pode sofrer alterações bruscas;
(b) Título pós-fixados podem ter o seu valor final variável conforme o desempenho do seu indexador, apesar disso, as variações do valor de resgate antecipado ao longo do tempo tendem a ser mais suaves.
MARCAÇÃO A MERCADO
Em primeiro lugar, o valor do título prefixado sofre maiores flutuações no seu valor devido à marcação a mercado. Todo título prefixado possui um valor conhecido desde o primeiro dia para a data do seu vencimento que é chamado de “valor de face”.
A marcação a mercado existe para que o título possua sempre um valor justo em relação a situação atual do mercado. Imagine que você investiu num título prefixado de 12 meses com remuneração de 6% a.a., e no 6º mês ocorre uma forte oscilação no mercado decorrente de um fato extraordinário (uma guerra ou pandemia por exemplo) que leva o mesmo título a ser emitido com taxa prefixada de 24% a.a.
Evidentemente, se não existisse a marcação a mercado, você resgataria o título e aplicaria novamente nessa nova série de emissão com remuneração de 24% a.a.
A marcação a mercado garante que o valor do título seja negociado, tal que o rendimento a ser obtido no tempo restante para o seu vencimento alcance resultado igual ao que está sendo praticado pelo mercado. Dessa forma, essa espécie de “ajuste” impacta no valor atual do título.
CONCLUSÃO
Por fim, a melhor opção entre prefixado, pós-fixado, ou mesmo um título híbrido depende do objetivo do investidor e comportamento do mercado.
De forma geral, se existe uma tendência de alta nas taxas de juros, os títulos pós-fixados podem ser mais atraentes, pois eles acompanharão esse aumento do rendimento. Enquanto isso, na situação de tendência de baixa os prefixados podem ser a melhor opção, pois “travam” a taxa de remuneração em uma condição melhor do que a futura.
Naturalmente, se você for comprar um título prefixado hoje, ele já conterá esse “prêmio” de risco associado, conforme a tendência de mercado. Por exemplo, em janeiro/2021 com a taxa SELIC em 2% a.a., um título prefixado do tesouro direto com vencimento em 01/01/2023 possui remuneração de 4,39% a.a., ou seja, já contém um spread de 2,39% a.a. relacionado ao risco de alta na taxa SELIC.
Ainda assim, o objetivo do investidor também é um fator importante nessa tomada de decisão. Por exemplo, se o investidor possui uma dívida de longo prazo (exemplo: financiamento imobiliário) com taxa fixa de 7% a.a. e compra um título prefixado que remunere 10% a.a., parece fazer mais sentido esse investimento (mesmo após impostos) do que a liquidação antecipada do financiamento.
Além disso o apetite ao risco de cada investidor será crucial para essa tomada de decisão consciente, após entendido o conceito, riscos e efeitos dos títulos prefixados e pós-fixados.
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